terça-feira, 7 de junho de 2011

Bloguisódeo 22 - Escort X

Escort X. É este o nome…

O inspector Amadeu levou a mão à testa, ajeitou os óculos, passou os dedos pelo cabelo ralo; tudo sinais familiares para quem convivesse de perto com este policia da velha geração… e com um único significado – o inspector estava preocupado, seriamente preocupado.

- E você… você tem mesmo a certeza? Absoluta?
O chefe de gabinete queria ter a certeza absoluta.
- Inspector, veja… a Interpol afirma que sim, a Scottland Yard afirma que sim, até os nossos amigos espanhóis do CNI, que nunca dizem nada… até esses estão de acordo…
- Oh Francisco, desculpe lá… - e o inspector remexeu a pilha de papéis sobre a secretária, à procura de algo em especial – mas esta história está muito… mas mesmo muito estranha…
Francisco Paulino, sub-chefe da delegação da policia judiciária, acenou que sim, mas insistia:
- É verdade, inspector, é verdade… mas olhe… segundo os ingleses, este Mancini, o dono da agência… é já bem conhecido lá fora… até já chegou a ser acusado em Itália, nada que se pudesse provar, claro… e este Mathias, apesar de ser peixe miúdo, também aparece muito nos relatórios… olhe, nem sei o que lhe diga…
O inspector agarrara uma fotografia e observava-a em detalhe; uma mulher de rosto latino, extremamente bela, o cabelo apanhado para trás e um olhar incisivo, penetrante.
O sub-chefe Paulino já antevia a pergunta seguinte.
- E esta… Júlia… - sibilou o inspector – o que tem esta Júlia a ver com todo este assunto?
O sub-chefe Paulio também tinha as suas reticências naquele ponto.
- Não sabemos, inspector… Registámos este primeiro contacto com a agência de acompanhantes… pode ser mera coincidência, pode não saber de nada, estar simplesmente na hora errada e no lugar errado, ou…
- … ou ser ela o elo de ligação entre Mathias e os colegas africanos, é isso? Ela alguma vez se interessou por diamantes? Tem algum passado, temos alguma referência dela, sem ser esta ligação recente?
- Nada, inspector, absolutamente nada…

Estranho, muito estranho.
Por mais voltas que desse, tudo voltava ao ponto de partida; um puzzle, muitas peças, nenhum fio condutor. Ou melhor… um pequeno e escorregadio fio condutor, o contrabando de diamantes angolanos para a Europa, através de um estratagema tão simples… que iludira durante anos os serviços de inteligência. Agências de acompanhantes.

- Qual foi o ultimo caso reportado, Francisco?
O sub-chefe Paulino abriu um pesado dossier, folheou meia dúzia de páginas.
- Fevereiro, inspector… uma acompanhante da mesma agência… Escort X, uma mulher, acompanhou um deputado espanhol numa visita a Angola… O CNI está seguindo o caso, fomos informados nessa altura…
- Então… e esse Mathias… esta Júlia… esse tal de Pedro, que também aqui aparece no relatório… estão todos a ser seguidos?
- Permanentemente, inspector…
- Muito bem… somos nós a dar o próximo passo, é isso? Onde está esta Júlia, neste preciso momento?
O sub-chefe sorriu.
- No teatro, inspector… Júlia, Mathias, Pedro… todos no teatro…
-Foi a vez do inspector se deixar rir, bem disposto.
- Óptimo, óptimo… então, meu caro Francisco… está na altura de nós entrarmos na peça…
O sub-chefe Paulino ficou parado, à espera da ordem seguinte. E como esta não surgisse:
- O inspector quer ir ao teatro?
- Ao teatro? Não, homem, não quero ir ao teatro… pegue em alguém e faça uma visita discreta à casa dessa tal de Júlia… quero saber tudo o que ela guarda no computador, na gaveta da roupa, no frigorífico, na garagem, quero saber tudo. Tudo, ouviu?

O sub-chefe concordou com um abanar de ombros, esperando ainda algo mais.
Que não havia.

- Oh, homem… mexa-se, mexa-se… despache-se…

Continua........



2 comentários:

  1. Boa...Isto está muito interessante*

    ResponderEliminar
  2. Obrigada Cacarol!

    Não queres juntar-tre a nós? Criatividade e génio não te falta!

    Bj

    ResponderEliminar

 
Página Inicial