sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Bloguisódio 40 - Greenland

Mac Doc tentou abrir os olhos, mas o esforço foi demasiado. A cabeça doía-lhe muito. Onde estava? O que acontecera? Ergueu a mão; esta deteve-se alguns centímetros acima do corpo, incapaz de subir mais.
Instintivamente empurrou a barreira que tinha acima de si, mas aquela não se mexeu.
 O que seria? Era macia ao toque como o cetim, e fria.
Fez deslizar os dedos pelo lado e para baixo; a superfície mudava. Mac Doc sentiu uns folhos. Uma colcha? Estaria nalguma cama?
Empurrou a outra mão para o lado e encolheu-a assim que a palma tocou nos mesmos folhos gelados. Havia-os dos dois lados daquele espaço estreito.
O que estaria a prender-lhe o anel quando mexeu a mão esquerda?
Com o polegar, apalpou o anelar e sentiu-o tocar num cordel. Mas porquê? Como?
Será que tinha entrado na cabine, será que estava em viagem e não se recordava?

A sua mente raciocinava frenética, enquanto tentava reconstruir o que acontecera Ouvira-a a tempo de se virara, ao mesmo tempo que algo lhe batera na cabeça.
Lembrou-se de ver uma ruiva deslumbrante de olhos azuis... Mystique....Sónia ou Camille?
Par onde e com que personagem teria viajado desta vez?
Ainda desorientado e apavorado  esforçou-se por compreender. Que raio quereria dizer o cordel?

Depois tudo lhe veio à memória e por momentos os seus olhos refulgiram num alucinado bailado estrábico. Tinha sido enterrado vivo!
Os tocadores de sinos!
Os vitorianos tinham tanto medo de ser enterrados vivos que se tornou tradição  atar um cordel aos seus dedos antes do enterro. O cordel saia por um orifício no caixão, subindo até à superficíe da campa.
Um cordel preso a um sino.
Tentou gritar, mas não emitiu um único som. Deu uns puxões no cordel, pôs-se à escuta, esperando ouvir lá em cima o som distante do sino, mas só havia silêncio. Escuridão e silêncio.
Deu uns murros no caixão, porém mesmo no interior o cetim espesso abafava o ruído. Por fim gritou. Gritou até ficar rouco, até não ser capaz de gritar mais.
Puxou a corda ...uma e outra vez. De certeza que estava a tocar. Ele não o ouvia mas alguém iria ouvir. Tinham de ouvir....

Cá fora o vento não se fazia ouvir, o luar cobria tudo. O único movimento era o de um  sino de bronze que se agitava de um lado para o outro numa dança de morte não ritmada. O badalo fora-lhe retirado.

Continua...

8 comentários:

  1. Muito bom! O pormenor do badalo ter sido retirado está sublime!
    Ok... andaste a ler o mestre Hitchcock nas férias...

    Lembro-me de uns episódios que dava na RTP com "Short Stories" do Hitchcock e nunca mais me esqueceu aquele episódio em que uma presidiária convenceu o coveiro da instituição prisional a ajudá-la a fugir.
    Como o cemitério ficava fora das instalações prisionais, eles combinaram que, quando morresse alguém, ela arranjava maneira de se meter dentro do caixão. Seria sepultada com o morto e dali a umas horas, quando escurecesse, o coveiro iria de novo desenterrá-la, devolvendo-lhe a liberdade.
    E chegou um dia em que o sino toca a defunto e ela lá conseguiu entrar no caixão e foi a sepultar.
    Passadas umas horas, e já farta de esperar aquele tempo que lhe parecia imenso, teve curiosidade em saber quem teria morrido. Leva com custo a mão ao bolso da camisa e tira uma caixa de fósforos... acende... e vê quem tinha morrido!
    A última cena passa-se às escuras com ela a dar um enorme grito de horror!!
    Quem jazia ali ao lado dela... era o coveiro!

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  2. Bom dia Linda!

    Por acaso não, mas lembro-me vagamente dessa história.
    Mas leio muito, adoro policiais e suspense logo é natural que todas essas leituras me influenciem.

    Continuo é à espera da tua colaboração, como vês é só pegar em algo e misturar umas ideias mirabolantes e voilá...o Bloguisódio continua!

    Bjocas

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  3. ...de suspense em suspense lá vamos andando...

    Já viste o tamanho que esta coisa já tem? Ainda vamos acabar por escrever algo que rivalize, em tamanho, com a enciclopédia Britanica, ou assim...

    (Pá, mas cadê o resto do pessoal? Anda tudo a laurear a pevide de férias?)

    :)

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  4. O badalo retirado é um pormenor delicioso. E muita sorte teve ele, de ainda apalpar folhos, se fosse comigo tinha ido no belo do caixão de pinho!

    Beijocas!

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  5. Ohhh adorei!!! tal como disse a Orquídea o pormenor do sino está fantástico...
    Se adoras policiais aconselho-te uma escritora que adoro... estou viciada nos livros dela: Patricia Mackdonald.... Vais adorar se é que já não conheces. beijo boa semana.

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  6. É mesmo Ulisses!

    Esta coisa está enorme mas ainda não chegamos às actualizações como na enciclopédia Britânica ahahahaah

    O Pessoal está de férias e depois chega aí todo inspirado (espero eu)!!

    Ainda não vejo fim à vista aqui para o Bloguisódio e enquanto contar com a tua inspiração acredito que ainda vamos ter aqui algo surpreendente!

    Abraço

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  7. Se achas Rafeiro que o fulano teve sorte....

    Hummmm que mauzinho que me saíste!!!

    Abraço

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  8. Olá Petra!

    Já conheço sim "Um Estranho em casa e Dia da Mãe" e também Gosto!

    Mas gostava mais de te ouvir dizer que ias juntar-te a nós...Vá lá atreve-te!

    Bj

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